Tuesday, April 22, 2008

Aventura perigosa

Padre voa em balões de festa, sai da rota e desaparece no mar
Equipe de busca inclui helicóptero, avião da FAB, navio da Marinha e pescadores voluntários

Um grupo de cem pessoas - com o auxílio de um helicóptero da Polícia Militar de Santa Catarina, duas embarcações da Marinha, um avião da FAB e outro do governo do Paraná, além de vários pescadores voluntários - prosseguiu, até as 18 horas de ontem as buscas ao padre paranaense Adelir De Carli, de 41 anos, que está desaparecido desde a noite de domingo, quando tentava fazer um vôo de 20 horas, sentado em uma cadeira, amarrada a mil balões de festas, cheios de gás hélio. O último contato aconteceu por volta das 21 horas, quando avisou que estava pousando no mar, a cerca de 15 quilômetros a leste das Ilhas Tamboretes, a 5 quilômetros da costa da Ilha de São Francisco do Sul, litoral norte de Santa Catarina.

No site da Pastoral Rodoviária, à qual o padre está ligado desde a ordenação há cinco anos, ele diz ter criado o evento Voar Social, como forma de atrair a mídia e divulgar assistência espiritual e social aos caminhoneiros. Ele declara ter “vasta experiência” como esportista em montanhismo, mergulho, pára-quedismo e vôo livre (parapente). De Carli já tinha levantado vôo, com a ajuda de 500 balões, em 13 de janeiro, em Ampère, no sudoeste paranaense. Atingiu 5.337 metros e desceu 4 horas e 15 minutos depois, a 110 km dali, em San Antonio, na Argentina. Segundo ele, o recorde de altitude anterior era de 3,9 mil metros, de um americano.

Desta vez, De Carli pretendia bater o recorde de tempo, que é de 19 horas, e ficar uma hora a mais no ar. Esperava que os balões o levassem para o interior do Paraná. Para isso, partiu de Paranaguá, no litoral do Estado, por volta das 13 horas de domingo. Seu peso total, com o equipamento, era de 250 quilos. Antes da aventura, celebrou uma missa na Paróquia São Cristóvão - onde os fiéis passaram ontem o dia em orações. Pouco antes da subida, foi questionado por um repórter da Rede Paranaense de Comunicação (RPC) se não seria teimosia enfrentar a chuva daquele momento. “Não, vou subir acima dela.”

Mas a preocupação da equipe de apoio começou cedo. Às 14h45, ele já estava a 5.800 metros de altitude, quase o dobro do previsto, e dirigia-se para o leste, na direção do oceano. Em contato telefônico com produtores da RPC, o padre disse que estava bem, mas relatou muito frio e desconhecimento do equipamento. “Eu preciso entrar em contato com o pessoal para que eles me ensinem a operar esse GPS aqui, para dar as coordenadas de latitude e longitude, que é a única forma de alguém por terra saber onde eu estou. O celular via satélite fica saindo fora de área e a bateria está enfraquecendo.” Nos contatos feitos com a equipe, ele disse que chegou a se distanciar cerca de 50 km da costa de São Francisco do Sul. Às 20 horas, já tinha voado 145 km. O último contato foi com o comandante do Grupo de Radiopatrulhamento Aéreo (Graer), capitão Nelson Henrique Coelho, às 21 horas, quando avisou que estava pousando no mar. De Carli disse que não tinha mais lastro.

O lastro é formado por água armazenada em cilindros que o padre jogava para fora do cesto amarrados - para perder altitude. Ele foi aconselhado a não se desgrudar dos balões, que poderiam ajudar na flutuação e na visualização - na primeira experiência, ele cortava os balões com estilete. À 0h30, os primeiros balões foram avistados na Praia da Penha, a 60 km de São Francisco do Sul. Ontem, às 11 horas, mais balões foram vistos na Ilha dos Remédios, no sul da ilha de São Francisco. A equipe de buscas deve retomar hoje o trabalho.

O padre usava roupa térmica capaz de suportar até 10 graus negativos. Ontem, a temperatura da água no litoral norte catarinense estava em 21 graus, o que garantiria a sobrevivência, dependendo das condições físicas.

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